miércoles, 20 de mayo de 2009

Cancionero: Letra de la canción Cálice de Chico Buarque

Este es un tema bien logrado. El cantante dice lo suyo con los énfasis y silencios necesarios, y no se calla nada: "el silencio de la ciudad no se escucha", "es difícil acordar callado","tanta mentira, tanta fuerza bruta"; "permanezco atento en la tribuna para ver surgir el monstruo de la laguna"; "callado el pecho, resta la cabeza de los borrachos en el centro"...
Cuándo enumera sus sufrimientos, en el último y más duro octeto, el coro atrás, en forma admonitoria, va ordenando: ¡cállese! ¡cállese! ¡cállese!, aprovechando la homofonía de ambas palabras en portugués.
Como siempre, la letra para los que quieran cantarla con Chico.


Cálice
Gilberto Gil/Chico Buarque - 1973

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

No hay comentarios: